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domingo, 2 de outubro de 2011

A dimensão Esquecida - Leonardo Boff

quarta-feira, 20 de agosto de 2008


A dimensão esquecida - segundo Leonardo Boff


Falando sobre sobre Espiritualidade, dimensão esquecida e necessária, o frei Leonardo Boff explica que para entendermos
o que seja precisamos desenvolver uma concepção de ser humano pela cultura dominante.
Esta afirma que o ser humano é composto de corpo e alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de uma forma integrada e globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e justaposta. Assim surgiram os muitos saberes ligados ao corpo e à matéria (ciências da natureza) e os vinculados ao espírito e à alma (ciências humanas). Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo que é a convivência dinâmica da materia e do espírito entrelaçados e inter-retroconectados.
Japress: Espiritualidade concerne ao todo ou à parte?
Boff: Espiritualidade, nesta segmentarização, significa cultivar um lado do ser humano: seu espírito, pela meditação, pela interiorização, pelo encontro consigo mesmo e com Deus. Esta diligência implica certo distanciamento da dimensão da matéria ou do corpo.
Mesmo assim espiritualidade constitui uma tarefa, seguramente importante, mas ao lado de outras mais. Temos a ver com uma parte e não com o todo.
Japress: Então, como viver numa sociedade altamente acelerada em seus processos históricos-sociais?
Boff: O cultivo da espiritualidade, nesse sentido, nos obriga a buscar lugares onde encontramos condições de silêncio, calma e paz, adequados para a interiorização.
Japress: Essa compreensão não é errônea.
Boff: Ela contém muita verdade. Mas é reducionista. Não explora as riquezas presentes no ser humano quando entendido de forma mais globalizante. Então aparece a espiritualidade como modo-de-ser da pessoa e não apenas como momento de sua vida.
Japress: O que mais enfatiza?
Boff: Antes de mais nada importa enfatizar fato de que, tomado concretamente, o ser humano constitui uma totalidade complexa. Quando dizemos "totalidade", significa que nele não existem partes justapostas. Tudo nele se encontra articulado e harmonizado. Quando dizemos "complexa" significa que o ser humano não é simples, mas a sinfonia de múltiplas dimensões. Entre outras, discernimos três dimensões, fundamentais do únido ser humana: a exterioridade, a interioridade e a profundidade.
Japress: A exterioridade humana é a corporeidade?
Boff: A exterioridade é tudo o que diz respeito ao conjunto de relações que o ser humano entretém com o universo, com a natureza, com a sociedade, com os outros e com sua própria realidade concreta em termos de cuidado com o ar que respira, com os alimentos que consome/comunga, com a água que bebe,c om as roupas que veste e com as energias que vitalizam sua corporeidade. Normalmente se entende essa dimensão como corpo. Mas corpo não é um cadáver. É o próprio ser humano todo inteiro mergulhado no tempo e na matéria, corpo vivo, dotado de inteligência, de sentimento, de compaixão, de amor e de êxtase. Esse corpo total vive numa trama de relações para fora e para além de si mesmo. Tomado nessa acepção fala-se hoje de corporeidade ao invés de simplesmente corpo.
Japress: Então, a Interioridade é a psiqué humana?
Boff: A interioridade é constituída pelo universo da psiqué, tão complexo quando o mundo exterior, habitado por instintos, pelo desejo, por paixões, por imagens poderosas e por arquétipos ancestrais. O desejo constitui, possivelmente, a estrutura básica da psiqué humana. Sua dinâmica é ilimitada. Como seres desejantes, não desejamos apenas isso e aquilo. Desejamos tudo e o todo. O obscuro e permanente objeto do desejo é o Ser em sua totalidade.
Japress: Como se identificar o Ser?
Boff: A tentação é identificar o Ser com alguma de suas manifestações, como a beleza, a posse, o dinheiro, a saúde, a carreira profissional e a namorada ou namorado, os filhos, assim por diante.
Japress: E quando isso ocorre...?
Boff: Quando isso ocorre, surge a fetichização do objeto desejado. Significa a ilusória identificação do absoluto como algo relativo, do Ser ilimitado como o ente limitado. O efeito é a frustração porque a dinâmica do desejo de querer o todo e não a parte se vê contrariada. Daí, no tempo, predominar o sentimento de irrealização e, consequentemente, o vazio existencial.
Japress: E o que é necessário para evitar esse vazio existencial?
Boff: O ser humano precisa sempre cuidar e orientar seu desejo para que ao passar pelos vários objetos de sua realização - é irrenunciável que passe - não perca a memória bemaventurada do único grande objeto que o faz descansar, o Ser, o Absoluto, a Realidade fontal, o que se convencionou chamar de Deus. O Deus que aqui emerge não é simplesmente o Deus das religiões, mas o Deus da caminhada pessoal, aquela instância de valor supremo, aquela dimensão sagrada em nós, inegociável e intransferível. Essas qualificações configuram aquilo que, existencialmente, chamamos de Deus.
A interioridade é denominada de mente humana, entendida como a totalidade do ser humano voltada para dentro, captando todas as ressonância s que o mundo da exterioridade provoca dentro dele.
Fonte: JAPRESS

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